Buscar e valorizar a ancestralidade para promover a cidadania ativa
Promover a visibilidade de grupos social e historicamente negligenciados, assim como desenvolver ações para que tenham protagonismo e condições de contar as suas próprias histórias, é uma iniciativa básica para fortalecer o senso de cidadania e, consequentemente, fomentar a participação democrática.
Dentro dessa trilha, a Fundação Tide Setubal e o Itaú Cultural desenvolveram e lançaram, em 2021, a Plataforma Ancestralidades. O espaço, que visa difundir conteúdos que dão destaque às criações dos diversos Brasis, baseados em saberes, histórias e culturas da população negra e dos povos originários, funciona também como um local de formação e fomento de iniciativas transversais dispostas em três eixos estratégicos:
- Democracia e Direitos Humanos;
- Arte e Cultura;
- Ciência e Tecnologia.
A escolha dessas três áreas temáticas não é aleatória: esses segmentos permitem aos visitantes da Plataforma Ancestralidades visualizarem de modo mais nítido a pluralidade da atuação e do trabalho de lideranças negras para além da mobilização política – em particular, na organização de projetos voltados à equidade racial.
No caso da seção Democracia e Direitos Humanos, em particular, a nomenclatura foi propositalmente adotada para tirar da invisibilidade os movimentos de resistência e a história de pessoas que trouxeram outras formas de pensar a organização social no Brasil. A mesma lógica vale para o fato de que a construção de uma sociedade democrática exige tratar tb dessa parte da História e construir a partir dessa pluralidade novas formas de participar.
Tais aspectos reforçam a lógica de que falar sobre as ancestralidades não equivale a falar sobre o passado: fazê-lo é destacar o que nos determina no presente e nos marca para o desenho do futuro.
Desse modo, as contribuições artísticas, culturais, científicas e tecnológicas, em especial, ganham evidência. Isso permite, por exemplo, tirar o caráter eurocêntrico relacionado aos saberes, por meio de abordagens decoloniais, e colocar em evidência os conhecimentos e inovações elaborados pela população afro-brasileira.
A perspectiva adotada permite à Plataforma funcionar como um espaço destinado ao debate e à reflexão, com o diálogo com pesquisadores, mestres populares, centros de estudos e outras instituições, gerando pesquisas, publicações, cursos de formação e conteúdos didáticos. Além disso, o Ancestralidades organizará editais e atividades para fomentar pesquisas e estudos voltados aos assuntos lá disponíveis.
Mergulhando na plataforma
Parte significativa dos conteúdos publicados no Ancestralidades está disponível em formato de verbetes temáticos dentro das seguintes seções:
- Marcos históricos: o campo é composto por acontecimentos que retratam a história das populações negras no Brasil. Estão evidenciados esforços de emancipação e episódios de conflitos, manifestações políticas, descobertas científicas e criações artístico-culturais, que são refletidos no contexto sociopolítico e racial no Brasil;
- Biografias e trajetórias: conteúdos relativos a lideranças políticas, artistas, teóricos e organizações que contribuíram – e contribuem – para evidenciar a potência da população negra no Brasil;
- Termos e conceitos: essa seção funciona como um glossário em que são retratados pontos relevantes sobre a temática étnico-racial no Brasil ao levar em consideração as múltiplas dimensões das experiências das populações negras. O foco consiste em aproximar os conhecimentos acumulados nos movimentos sociais e na academia sobre a condição desses grupos no país, dando-lhes visibilidade.
Outra seção a ser destacada é Narrativas Emergentes. Essa área é um reflexo do trabalho contínuo de pesquisa para identificar os sinais de desenvolvimento de tendências e questões com origem em diversas plataformas midiáticas. Os conteúdos inseridos dialogam com os eixos temáticos Arte e Cultura, Democracia e Direitos Humanos e Ciência e Tecnologia.
O processo de curadoria dessa área do Ancestralidades é baseado em pesquisas que envolvem ampla variedade de fontes, como portais de notícia, blogs de opinião, perfis em redes sociais, bancos de dados e periódicos acadêmicos. Vale ressaltar que os tópicos lá destacados passarão por atualizações periódicas para acompanhar as transformações e tendências socioculturais e comportamentais identificadas.